sábado, 20 de dezembro de 2008

CONTO DE NATAL. Cronica por Edna Costa.

Cena um:

Noite de natal. Na grande sala iluminada, a menina ricamente vestida abriu a caixa e tirou a mais bela
boneca que jamais tinha visto. Loira, de longos cabelos cacheados e grandes olhos azuis, a boneca
parecia-se com ela.

Ficou por alguns minutos com o presente pairando no ar, para logo em seguida tomá-la pelas mãozinhas mimosas e pôr-se a rodopiar pela sala cantando e dançando, arrancando sorrisos de ternura e alegres exclamações dos familiares e convidados.

Vieram muitos presentes mais e finalmente todos sentaram-se à mesa para a ceia. Lá fora podia-se sentir os aromas das comidas, ouvir os risos felizes, o tilintar de copos e a conversa animada.

Cena dois:

Noite de natal. Na casa humilde, a menina pobremente vestida encostou a cadeira na janela, ajoelhou-se nela e olhando para o céu, pensou: será que este ano ele vem? Mas o tempo foi passando, o sono chegando e nada do bom velhinho aparecer. Finalmente o pai, tristemente, a pegou já quase adormecida e colocou-a na cama. Como sempre, não haveria ceia e nem presentes.

No dia seguinte, mais uma vez sentiria decepção quando a mãe - com o coração partido - contaria a mesma história de sempre: que talvez Papai-Noel não tivesse achado o endereço ou quem sabe teria se perdido ou este ano não teria dado tempo para entregar todos os presentes. Mas, diria com falsa alegria na voz, no próximo ano ele virá, com certeza!

As duas histórias são reais e foram vividas,respectivamente, por minha prima rica e pormim, durante muitos natais. O tempo passou, elacontinuou rica e eu deixei de ser tão pobre.Felizmente Deus não permitiu que eu ficasse revoltada ou marcada de maneira negativa.

Hoje eu amo o natal com suas luzes brilhantes colorindo casas, ruas e cidades. E o que dizer das vitrines das lojas? Elas são um espetáculo à parte de criatividade, beleza e pura magia.

Mas ainda tem uma sombra que me entristece; é pensar que ainda existe muita criança pobre esperando pelo bom velhinho, que talvez nunca chegue para realizar seu sonho de natal.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Técnologia. Crônica por Edna Costa.

Gente, meu velho celular estava meio arruinado, por
isso resolvi comprar um novo. Pedi ajuda aos meus
filhos e lá fomos nós para uma grande loja, onde eles
começaram a pegar telefones, olhar, mexer em teclas,
pedir informações para o vendedor e eu de lado
tentando dar palpite, sem sucesso. Finalmente
soltando um longo suspiro, meu filho escolheu o mais
novo lançamento do mercado. Era pequenino, filmava,
fotografava, calculava, agendava, tinha games, rádio,
tela de cristal líquido, conectava na net e outras
tantas funções que nem lembro mais. Também suspirei
longamente (por causa do preço) e...comprei!

Bem, agora eu tinha uma maravilha tecnológica nas
mãos e, passada a euforia precisava aprender a lidar
com meu novo auxiliar. Peguei o manual de instruções
(em inglês) e pela grossura do volume já senti que
demoraria algumas semanas para ler (e talvez entender)
tudo mas, depois de olhar melhor conclui que levaria
meses ou quem sabe mais de um ano. Terei que ter
paciência!

Fui pedir ajuda aos filhos, afinal, eles são experts
nessas parafernálias eletrônicas! Mas, como sempre
acontece, eles não tem tempo a perder dando
explicações para alguém que não entende tudo na
primeira vez (euzinha). O mais velho queria me ensinar
a apertar a tecla para ligar e desligar (os filhos
pensam que a gente envelhece e fica burro) e, eu disse
que isso eu já sabia fazer. Então me ajudou a gravar
uma mensagem para quem me ligasse e, disse que "era o
suficiente por enquanto", que depois me ensinaria mais
coisas.

Oras, pra que mensagem se não sei como vou ouvi-la?
Fui pedir ajuda ao caçula. Esse tem mais
paciência, mas nunca tem tempo! Começou querendo me ensinar a
ligar e desligar o telefone (oh! meu Deus!) mas eu
mostrei que isso eu já sabia fazer. Ele me ajudou a
gravar uma senha para poder ver meus recados, me
explicou como fazer isso e disse que " era o
suficiente por enquanto", que quando tivesse tempo me
ensinaria mais coisas.

Num gesto de benevolência, programaram o relógio
do celular para eu poder ver as horas e lá fui eu
trabalhar. Durante o percurso, aproveitei para ir
mexendo aqui e ali, para ver se conseguia mais algum
progresso. Depois de muito tempo, consegui! Consegui
desregular tudinho! E ainda por cima, quando
finalmente o telefone tocou, era meu filho me dando a
maior bronca dizendo que fazia um tempão que estava tentando
falar comigo e não conseguia, eu posso? Agora me
pergunto: para que um celular de última geração se
levarei tanto tempo para aprender a utilizar as mil
funções que, quando eu conseguir esse já estará
obsoleto?

De repente senti uma grande frustação. Lembrei de um
tempo quando a gente só tinha um telefone em casa, o
qual, precisava simplesmente ser ligado na tomada, no
plug, tirar o fone do gancho, girar o dedo num disco (ou
apertar as teclas) e falar. Fiquei com saudades de
quando a gente comprava uma geladeira, um fogão ou outros
eletrodomésticos e o maior trabalho que eles davam era
para tirar da caixa e colocar no lugar que ficariam.
Hoje os aparelhos ditos inteligentes, precisam ser
programados, vem com controle remoto avançado, não
sei quantas memórias e por aí vai. Até onde essa tal
tecnologia nos levará?

Quanto ao meu celular novo, troquei com meu filho!
Fiquei com o antigo dele e ele com a "mini-maravilha"
que, aliás, ele mesmo mesmo tinha escolhido, lembram?

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

ESSE TAL GERUNDIO. Crônica por Edna Costa.

A Valquiria leu minha crônica e mandou um e-mail que até agora não entendi. Falava de uma pessoa que, juro, nem conheço! Disse que eu estava "abusando" de um tal Gerúndio e que no Brasil isso era imperdoável. Resolvi esclarecer esse e-mal entendido publicamente conforme segue.

Querida Val, vou dizer uma coisa do fundo do meu coração, eu acho que não e só aí no Brasil. Em nenhum lugar do mundo deve-se fazer isso! Nem que o sujeito tenha o nome tão ou mais feio que esse, isso não é desculpa para tanto.

E pode ser que, apesar de ter este nome, que parece um palavrão, o talzinho seja um homem bonito, inteligente, simpático ou quem sabe no mínimo interessante.

Olha Val, para ser sincera bem que eu gostaria de poder abusar desse cara porque afinal, sou livre, desempedida e já faz um tempão que não abuso de ninguém. Todo abuso que tenho feito ultimamente não passa de alguns gritos com minha cachorrinha e isso tem explicação: ela que é abusada demais.

Agora falando sério: será que dá para me apresentar o Gerúndio? Pode ser que a gente simpatize um com o outro e você acabe sendo convidada para ser madrinha do casamento, que tal?

Depois de tudo esclarecido espero que você continue lendo minhas crônicas e sempre que observar alguma coisa que a incomode, escreva tá? Só não vale me acusar de abusar de mais ninguém, por favor.


(Gerundio: Forma nominal do verbo que expressa uma acao que se realiza naquele momento. EX. Estou escrevendo, andando, cantando)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

E ainda tem gente que reclama! Crônica por Edna Costa. 02.02.2005.

Hoje vou falar dos mendigos que vivem nas estações de trens e outros lugares públicos. Eles estão lá todos os dias e noites. Na primavera, verão, outono e inverno, que aliás, para eles deve ser a pior época do ano. Sempre nos mesmos lugares durante 24 horas. Conversa jogada fora e olhares perdidos no nada perambulam para lá e para cá como uma procissão macabra.

Sem casa, sem família, sem amor e sem futuro, vivem a mesmice dos dias vazios e iguais. Seguem uma rotina de horror. Sem cama, dormem no chão duro e frio ou nos bancos das praças públicas; sem mesa e cadeiras sentam-se nas beiradas das divisões de vidro das plataformas do metrô ou nos degraus de cimento das igrejas e comem com as mãos o que conseguem da caridade dos que passam.

Driblam os seguranças para poder usar os banheiros públicos - que normalmente são bem limpos - e quando pegos, são escorraçados como cães. Cheiram mal e apesar de normalmente não molestarem ninguém fisicamente, incomodam com seus palavrões, suas presenças sujas e maltrapilhas, nos causando medo e insegurança.

Ainda terão esperancas para o futuro? Será que vivem de lembranças do passado? Ou vegetam somente no presente, sentindo-se como presos no corredor da morte, a espera do desenlace final? Não podemos julgá-los por não sabermos a razão pela qual transformaram-se em fantoches do destino. Atrevo-me a arriscar um palpite de que a primeira coisa que perderam na vida foi a fé em Deus.

Mas eles nos fazem pensar. Pensar em como somos felizes em sermos perfeitos, termos uma casa, emprego, saúde, uma família com quem podemos sentar a mesa para uma refeição decente, e amigos sinceros com quem podemos dividir nossos sonhos. E tem gente que ao invés de agradecer pelo que tem de bom, ainda reclama da vida!

sábado, 11 de outubro de 2008

DR. ZEN? Cronica por Edna Costa. 04.09.2005.

Já passei dos cinquenta e digo isso com um misto de orgulho e apreensão. Orgulho por estar com aparência de cinquenta e esses anos mesmo que tenho e, apreensão porque toda vez que vou ao médico, ele acha alguma coisa errada comigo. Às vezes, eu só vou lá para "fazer manutenção" e, acabo saindo com a impressão que tenho os dias contados. Assim, resolvi trocar de doutor.

Semana passada fui a um clínico chinês, indicado por uma amiga. Na recepção do consultório já senti um mal estar pela frieza do ambiente. A moça que atendia, combinava perfeitamente com o local: educada e impessoal demais! Depois de preenchida a ficha médica, na qual ela fez mil perguntas, sem ao menos olhar no meu rosto, sentei-me numa poltrona de canto e, fingi estar folheando uma revista enquanto passava os olhos - disfarçadamente - pelo ambiente.

Notei que as outras pessoas faziam o mesmo e, me segurei para não rir. Que saudades dos tempos em que os consultórios não tinham tanto luxo mas tinham mais calor humano! A gente sempre engatava uma prosinha com outro paciente e, dali muitas vezes surgiam confidências que resultavam numa consulta à parte, com trocas de informações sobre doenças, remédios e quiçá, uma nova amizade. Se nunca viveu uma situação asssim, você provavelmente tem menos de vinte anos.

Entrei para a consulta e achei o consultório idêntico à sala de espera no quesito frieza. O doutor, já com minha ficha na mão, cumprimentou-me com uma leve reverência, cruzou os braços e ficou me olhando. Pensei que ele fosse me fazer perguntas mas, qual o que, ele ficou na posição "fiscal de vistoria". Nervosa, comecei contar tudo o que me afligia. Falei sobre minha coluna, meu ombro, minha insônia, que tenho cristais no joelho (chic, né gente?) e sei lá o que mais.

Até hoje eu não sei se o chinês era surdo e minha amiga esqueceu de me avisar, se ele desligou-se de tudo e entrou em alfa ou se ficou naquele estado zen oriental...ZEN palavras. Quando terminei de despejar tudo que tinha direito, ele continuou na mesma posição e não emitiu nenhum som. O silêncio era tal, que podia-se ouvir a respiração de ambos. Senti-me envergonhada e solitária no meu ocidentalismo.

Fiquei aliviada quando ele finalmante descruzou os braços, e começou escrever na ficha. Depois de um tempo, que para mim foi uma eternidade, estendeu-me uma receita, levantou-se com um meio sorriso no rosto, soltou um som quase inaudível (seria um até logo?) e abrindo a porta indicou-me a saída. Inacreditável! Saí de lá ZEN entender nada e tomei duas decisões.

Primeira: da próxima vez que precisar de médico vou procurar um geriatra ocidental e me informar melhor sobre ele.

Segunda: Vou ficar um tempo ZEN falar com minha amiga. Talvez o necessário para passar a gana que tenho de enforcá-la!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

É Verão! Crônica por Edna Costa. Setembro/2008.

Minha vidinha aqui normalmente é pura rotina! Durante a semana, do trabalho para casa e de casa para o trabalho. Aos domingos missa e almoçar em qualquer restaurante ou cantina. Depois passear a pé bisbilhatando vitrines e preços, tomar um sorvete e voltar para casa. Mas, como o mundo inteiro sabe, no verão os novaiorquinos enlouquecem e agora fazendo parte dessa cidade entro na ciranda de agitação e frenesi.

Mês passado já comecei mudar minha pacata vida. Andei saindo para outros lados, que não ir à missa. No dia 23 de maio (sexta-feira) fui ao famoso Carnegie Hall, para assistir à apresentação do nosso valente maestro João Carlos Martins. Aquele que perdeu os movimentos das mãos depois de uma série de acontecimentos, mas que nem assim desistiu e continua um vencedor.

No dia 25 de maio (domingo) à noite, fui ver o show do Roberto Carlos, em Elizabeth, New Jersey com a Suely, uma amiga querida. Amei tudo, já que nunca tinha visto o show dele. Achei-o bem melhor pessoalmente do que na televisão e fotos. Simpático e envolvente, ele cantou algumas músicas em espanhol, muitas em português e em outras, metade em português e metade em espanhol. É que ele faz muito sucesso entre os hispânicos.

Na semana seguinte (30 de maio - 6a. feira) fui ao teatro no Central Park (ao ar livre) com minha amiga Laís, assistir Hamlet. Funciona só na época de calor. Você fica na fila desde a madrugada durante dias e se tiver sorte consegue os ingressos (grátis) para duas pessoas para ver a peça, que sempre tem a atuação de alguns artistas famosos da Broadway, cinema ou televisão.

A peça foi cansativa; três horas de apresentação com um intervalo de meia hora. Soprava um ventinho frio, eu estava cansada e não consegui entender muita coisa. A dica é saber o desenrolar da história e então dá para acompanhar numa boa. Mas valeu pelo local, companhia e pelo espetáculo.

Em 24 de junho (terça-feira) também fomos assistir um belo concerto da Orquestra Sinfônica de New York, no Central Park. A previsão do tempo dizia que a temperatura seria agradável e foi o que aconteceu. Fomos eu, meus filhos e alguns amigos levando toalhas de mesa, água, vinhos, refrigerantes, taças, copos e guardanapos descartáveis, frutas, patês, pães e torradinhas, como já é tradicional nesses shows.

A temperatura amena ao entardecer deixou-nos num estado de relaxamento total. Estendemos nossas toalhas na relva, dispusemos os petiscos devidamente protegidos em cima, sentamos todos em roda e tagarelamos alegremente até o concerto começar.
Quando as notas melodiosas começaram a se esparramar pelo ar, todos se calaram. A lua grande e clara, o céu pontilhado de estrelas, o vento refrescante e a atmosfera festiva fizeram com que a noite se tornasse quase mágica.
E para encerrar, em julho passei um bocado de tempo dentro do MoMa assistindo o festival de cinema brasileiro, que últimamente tem me surpreendido pelos ótimos filmes produzidos, entre eles o Estomago um dos melhores que vi. Quem puder assista também Os desafinados, Meu nome não é Johnny, O signo da cidade, O mistério do samba e Não por acaso. Vale a pena!

Agora chegou setembro com seus ventos frescos anunciando o outono. O sol já começa se esconder mais cedo e o céu cobre-se de tons cinza e rosa. Hoje quando passei num parque já notei algumas gralhas rodeando os pombos em busca de comida.
Logo chegará o intenso inverno e todos se recolherão aos locais mais fechados. Recomeçará o ciclo das estações do ano. Eu, como todos, ficarei esperando pelas surpresas que virá com esse estupendo milagre de renovação da vida.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

DEPOIS DOS CINQUENTA. Cronica por Edna Costa. Junho/2004.

Tem gente que já passou dos cinqüenta mas finge que ainda nem chegou lá. Veste-se como jovem, pratica algum tipo de esporte (o que é muito saudável) como por exemplo caminhar, mas diz candidamente que puxa ferro ou que faz outros esportes mais radicais, fala gíria e comporta-se como seus próprios filhos, os quais, na maioria das vezes, sentem-se constrangidos com a situação. Não sei quem é pior, se o homem ou a mulher.


Tenho uma amiga que se recusa a usar óculos mesmo não enxergando muito bem. Outro dia ela entrou numa loja e deu o maior vexame! Em cima do balcão havia um pote cheio de "bolachinhas" amarelas e ela achando que era uma cortesia da loja enfiou algumas na boca, diante da espantada vendedora. Teve que cuspí-las porque eram duras e com um gosto horrível. Só então descobriu que as "bolachinhas" eram pedacinhos de amostra de bucha para lavar louça.

E tem o marido de uma conhecida que não quer ser velho de jeito nenhum! O casal está aposentado e vive no litoral paulista. O coroa passa o dia todo na praia olhando as gatinhas. Põe uma sunga ousadinha, meleca o corpitcho de bronzeador, estufa o peito, encolhe a barriga e fica andando para lá e para cá com passinhos curtos, emitindo sons incompreensíveis para as meninas. Ele nem desconfia que a garotada botou o apelido nele de pombinho, alias, bem merecido.

Já eu quero envelhecer na medida certa. Sem essa de andar vestida de cocóta, mascando chiclete, achando os carinhas sarados, curtindo som da pesada e falando gíria. Nada disso cara, eu vou envelhecer na boa, falô?

domingo, 17 de agosto de 2008

A moça da janela! Parte III. Crônica por Edna Costa. 08/03/2008.

Ela, que sonhou ser feliz, casou com o homem errado. Ainda machucada pela vida aceitou conforto material, mas viveu subjugada pelo marido sofrendo calada por quase trinta anos! Permitiu isso tudo achando que deveria agradar, sempre, todos à sua volta, para ser amada de verdade.

Tudo aconteceu como o roteiro de um filme, com final previsível. Acordar cedo para preparar café, chamar um a um para usar o banheiro sem confusão. Fazer com que tudo desse certo nessa primeira refeição e em seguida, levar as crianças para a escola. Na volta, parar no supermercado e no banco.

Chegar em casa já atrasada, lavar a louça, arrumar camas, botar a roupa na máquina de lavar e começar o almoço. De novo, pia cheia de louça, fogão espirrado, mesa colocada e olho no relógio. Ainda falta molhar as plantas, tratar do canário e do peixe (que tem muita pena de ver trancados em espaços tão mínimos, mas aceita por amor aos filhos, que só mais tarde entenderão o que é tirar um bicho da natureza) e dar uma geral na casa.

Sair atrasada para pegar a criançada, achar que todos os faróis estão conspirando contra sua corrida e, chegando perto da escola, claro, não achar nenhuma vaga para estacionar. Coração acelerado, rosto afogueado e os meninos finalmente acomodados, volta para casa revendo mentalmente a rotina do dia.

Na volta, algazarra e gritaria atrapalhando sua concentração para dirigir. Deveria ser permitido às mães colocar mordaças nos anjinhos, para poder praticar direção segura. Pensando bem, depois de receber um caderno voador na cabeça, pensa que sim, deveria poder amarrar as mãos dos fofos, também.

Todos satisfeitos, hora da lição e enfim, um pouco de calmaria. Enquanto arruma tudo na cozinha, já pensa no que servir para o jantar. Duas horas! Tempo de levar todos para o inglês (ou natação, judô, etc), quem sabe, passar rápido na casa da mãe ou da sogra e lá se vai mais um dia atribulado.

Quando chega a noite e todos já estão na cama, arrumar tudo de novo e organizar as coisas para o próximo dia. Cansaço batendo bravo e o marido, sem as sutilezas do tempo de noivado, avança em busca de alívio para as tensões do dia. Fingimento, maneira triste de celebrar o dito amor.

Deitada, relembra os sonhos de juventude e seu grande amor perdido. Sente-se triste e chora pela vida que não viveu. Fará isso muitas vezes. Pensa que pelo menos tem os filhos que são presentes de Deus em sua vida e que fazem seus dias ficarem iluminados, quando escuta seus risos e falatório.

Hoje, quase chegando aos sessenta anos, está divorciada e em paz. Já viveu muitos dramas, sustos e alegrias. Nos dias felizes, canta e gargalha alto. Nos dias de tristeza, reza, acreditando em milagres e sonhando um futuro melhor. Como será a velhice da sonhadora moça da janela, agora uma senhora?

Imagino que será como foi a vida toda. Será feita de encontros e desencontros, em uma esquina qualquer do mundo. Feita de esperanças e crença, de que tudo pode ser do tamanho de seus sonhos, porque quando se tem fé, os sonhos nunca terminam.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A moça da janela. Parte II. Crônica por Edna Costa. Abril/04/2007.

Numa noite enluarada e silenciosa, a moça da janela caminhou até o topo de uma ladeira que havia perto de sua casa. A seus pés, as luzes faiscantes da cidade confundiam-se com as estrelas que coalhavam o céu. A lua clara e majestosa projetava sombras ameaçadoras, mas ela não sentia medo,

Sentia sim, um grito parado na garganta e uma vontade imensa de esquecer tudo por que passara. Lembranças vieram à tona fazendo-a chorar copiosamente. Naquele momento, decidiu que homem nenhum merecia sua dor e que já era hora de ser feliz novamente.

Resolveu ceder aos galanteios do rapaz que trabalhava numa firma, para a qual ela prestava serviços. Contrariando sua vontade, ele, assim que pôde, foi à sua casa falar com o severo pai, que a repreendeu por nem bem ter terminado um noivado e já estar namorando outro rapaz. Acabaria mal falada, sentenciou. A moça sentiu o peso de ser mulher, numa época em que os homens, ao contrário delas, tudo podiam.

Por mais que se esforçasse, ela não conseguia mais sentir amor verdadeiro em seu coração. Havia apenas ternura, amizade e gratidão, por essa nova pessoa que a estava amparando nesse momento difícil da vida. Tinha dúvidas se apenas isso serviria de base para uma vida inteira, mas ainda ferida pelos acontecimentos, deixou-se levar pelas incertezas e em pouco tempo casaram-se.

Depois de dois anos de convívio, as coisas começaram a mudar. Perdera um bebê numa primeira gravidez, mas agora nascia o filho que tanto almejavam. O marido começou a sentir ciúmes dessa relação mãe/filho e demonstrava isso aberta e publicamente, deixando-a sempre constrangida.

Depois, veio a fase em que ele saía mais vezes e ela ficava cuidando da criança. Quando o bebê tinha somente quatro meses, ficou grávida novamente. Uma gravidez difícil, que terminou depois de três meses com muita dor. Vieram mais dois filhos e a relação do casal passou a ser ainda mais turbulenta.

O tempo passava rápidamente e os afazeres eram tantos, que não deixavam a moça pensar muito o que estava sendo sua vida. Ela, que jurara ser feliz, vivia uma vida que só não era tão vazia e triste, pela presença dos filhos. O sonho que tão lindo começara, estava virando um grande pesadelo. Era a história invertida: o príncipe virou sapo!

Num dia em que se sentia extremamente melancólica, a moça fez um novo juramento: assim que os filhos caminhassem com as próprias pernas, iria se separar desse homem que depois de tantos anos de dedicação, lhe dera em troca traições, solidão, desespero e decepções. Duvidava da coragem, que deveria reunir para este gesto. Seria ela capaz? Não perca a parte final dessa odisséia

domingo, 3 de agosto de 2008

A moça na janela. Crônica por Edna Costa

Sempre que ele olhava para a janela, via a moça triste a suspirar. Que sombrios pensamentos teria ela agora, perguntou-se o jovem? Sabia da sua historia e sentia pena ao lembrar. Ela tinha o olhar perdido e a expressão carregada por toda dor que passara. Quem desconhece a dor do amor? Do amor que machuca e deixa marcas para a vida toda? O amor bandido não faz distinção entre moça feia ou bonita e ela descobriu isso ainda bem jovem.

Era bonita e vestia-se modestamente, mas com bom gosto. Tinha longos cabelos castanhos que caiam como cascatas em cachos sobre os ombros. Os olhos castanhos e profundos realçavam a pele muito alva e sedosa. A boca delicada era rosada naturalmente, mas ela a contornava com batom quase do mesmo tom. Quando falava era cativante e todos gostavam muito dela.

Assim que ela o viu pela primeira vez, apaixonou-se. Tinha dezoito anos, muitos sonhos e seu coração
ansiava encontrar um príncipe encantado. Disse para a amiga que a acompanhava: vou me casar com ele! A amiga sorriu com certo deboche, pois sabia que o rapaz tinha namorada firme. Avisou-a e ela não fez o menor caso, como se não tivesse escutado.

Outras vezes que o viu, notou que ele a olhava com interesse também. Eram tempos mais pudicos e ela não entendia como ele, namorando firme, mostrava interesse por outra garota que não a noiva. Enfim chegou o dia em que ele a convidou para passear e ela com o coração acelerado e com alguma culpa aceitou. O amor às vezes nos faz agir como tolos e por ele perdemos a razão.

Passearam por uma praça perto de sua casa, falando de banalidades; quando ele pegou suas mãos, disse que estava apaixonado e que se ela o aceitasse largaria tudo para ser feliz ao seu lado. Logo pediu permissão para seu pai para namorá-la e começaram a fazer planos para o futuro. Ele mostrava-se apaixonado, faziam um belo par e estavam felizes. Já se passara quase dois anos quando ficaram noivos e marcaram a data do casamento.

Mas o jovem bonito era volúvel e, mais uma vez,
envolveu-se com outra sem que ninguém soubesse. Quando deram pelo fato, a jovem já estava grávida e com o pai dela nos calcanhares dele. Naqueles tempos ou casava ou morria e ele optou pela lógica. A moça da janela não suportou; sofreu um colapso nervoso tendo que ser internada num hospital onde passou alguns dias em completa alienação.

Quando voltou para casa, sua vida nunca mais foi a mesma. A ingenuidade e a alegria de viver esvaiu-se, juntamente com a decepção que sofrera. Nas noites mornas de céu enluarado e estrelas faiscantes, debruçava-se na janela com ar triste e olhando a cidade, chorava. Mas a vida tem que seguir adiante. Que peça mais o destino pregou na moça da janela? Ah! Isso já é assunto para uma próxima crônica, que vocês poderão acompanhar na próxima semana.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Dia especial. Crônica por Edna Costa. 25.01.2006.

O dia amanheceu luminoso e enganador. Olhando pela janela vi um sol brilhante, nuvens esparsas e comecei a pensar que roupa colocaria à noite, para comemorar meu aniversário, juntamente com meus dois filhos. Meu outro filho (que vive no Brasil) me telefonara bem cedinho, mas meu celular estava desligado e não nos falamos.

Prestei atenção num passarinho solitário na beirada do telhado vizinho e fiquei refletindo, como essas aves pequenas e graciosas, são tão resistentes às baixas temperaturas dessa época do ano. Divaguei, comparando-as às pessoas guerreiras que conheço e admiro.

Não sei porque, todo dia do meu aniversário fico em estado meditativo e com uma certa ansiedade. Sempre espero que todos lembrem-se de mim naquele dia e se isso não acontece, fico levemente frustada. Apesar de saber ser isso uma tolice, sempre foi assim.

Abri uma fresta da vidraça e o vento gelado me alertou sobre o frio desse dia de janeiro, quando o inverno está em pleno rigor. Quinze ou vinte graus (celsius) abaixo de zero, foi o que deu na previsão do tempo para hoje. Fechei rápidamente a janela e voltei a olhar meu leite no fogo. Depois de tomar meu café, me agasalhei bem e saí para trabalhar.

Apesar de ter sido um dia monótono e cansativo, quando voltava para casa fiz uma prece de agradecimento, por mais um ano de vida. Sorri ao lembrar meu primeiro pensamento do dia: me vestir fashion, para demonstrar jovialidade. Depois achei tudo uma bobagem, pois isso está muito mais dentro da gente do que no visual, se bem que às vezes aparência também conta muito!

À noite, quando eu estava escolhendo minha roupa, meus filhos chegaram e todos tagarelamos alegremente. É sempre igual; eles cobram para não atrasar, eu me apronto e fico sentada esperando pelos atrasadinhos. Quando finalmente saímos, a temperatura já tinha atingido o nível previsto pelos meteorologistas e sentimos isso na pele.

Chegamos ao restaurante reservado e fomos gentilmente conduzidos à mesa pela maitrê, uma bonita e elegante mulher. Então, veio a primeira surpresa. Um lindo buquê de rosas brancas e vermelhas, arrematadas por delicados ramos de florzinhas do campo me aguardava. Depois de instalados, as surpresas continuaram.

Vieram taças de champanha para fazermos um brinde e o garçom trouxe uma caixinha de veludo com uma Nossa Senhora (benta). O jantar estava ótimo, a sobremesa idem e eu tive direito a mini-bolo com velinha e tudo. Quando eu estava me controlando para não chorar, meu filho ligou do Brasil. Daí não teve jeito e o nó na garganta, virou um discreto choro.

O dia terminou perfeito! A noite gelada e escura lá fóra, não combinava com a alegria que tomava conta de todos nós. Voltei para casa cansada, feliz e mais uma vez agradecida a Deus, por poder comemorar mais um ano de vida com minha família, saúde e muitos sonhos realizados.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Vida bandida. Crônica por Edna Costa. 09/02/2008.

Nós tínhamos casa numa cidade balneária e estávamos sempre por lá. Férias, fins-de-semana, festas e feriados são até hoje lembrados por todos nós, como dias de diversão e alegria. Num período em que estávamos lá, aconteceu um caso que ainda hoje é comentado por muita gente.

A cidade é pequena e quase todo mundo se conhece. Na praça principal tem a igreja matriz, o hotel mais chic, o restaurante mais badalado e os barzinhos descolados. Tudo isso reunido em volta do velho coreto. Os bares colocam mesas e cadeiras na calçada e quando algum conjunto antigo toca no coreto, as pessoas dançam alegremente, inclusive os mais idosos.

No fim da rua principal há uma sorveteria, bem agitada aos sábados e domingos, mas meio sem movimento durante a semana. A mãe da proprietária já estava bem velhinha, não andava mais sózinha e diziam as más línguas, que já não regulava muito bem.

Durante a semana a filha sempre colocava a velhinha sentada numa cadeira, na porta da sorveteria e a deixava olhando o movimento para se distrair. Quem passava não ligava para a velha, que falava sózinha e parecia estar sempre reclamando.

Numa sexta-feira, a proprietária precisou sair logo depois do almoço para voltar bem tarde e pediu às funcionárias que olhassem a mãe. Assim que ela saiu as meninas puseram a velha senhora na porta, mas por estar muito sol, a colocaram atrás da placa de propaganda da sorveteria, que ficava na calçada. Lá pela tardinha, começou o movimento forte e ninguém mais lembrou da pobrezinha.

Quando já estava quase anoitecendo e todos mais sossegados, ouviram uma vóz gemendo: viiidaaaaa, quero morrrerrr...viiidaaaaa, quero morrrrerrr! Saíram todos para ver quem era e deram com a velha quase rouca, toda descabelada e com xixi na roupa. Foi a maior correria para tirar a senhora da rua e acomadar tudo, antes que a filha chegasse.

Depois disso parece que a velha senhora engoliu uma vitrola, pois repete muitas vezes a mesma fatídica frase. A molecada não perdoa e quando avista a pobre sentada na cadeira, passa correndo e gritando; viiidaaa, quero morrreeerrrr!

Voltei.

Oi meus amigos queridos, estou de volta. Ainda repondo meus tesouros no novo cp, mas agradecida por não ter perdido nada que estava na memória do outro, que queimou. Agora tenho um HD externo mais possante, do qual poderei acessar minha conta de qq. lugar do mundo e sem o perigo de perder minhas coisas. Ah! essa modernidade me deixa feliz e ao mesmo tempo doidinha, pois facilita nossas vidas, mas se tem algum "piriri" larga a gente na mão.

Estarei aqui recolocando minhas crônicas aos pouquinhos. Espero que vocês continuem passando nesse cantinho e deixando seus recadinhos carinhosos. Obrigada tb. a todos que mandaram e-mails. Beijão e fiquem com Deus.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Oi pessoal.

Amigos, estou sem computador ha duas semanas eusando (pouquissimo) o do meu filho. Imaginem o estresse: sem saber se perdi tudo o que tinha no meu cp...cronicas, receitas, mais de 5.000 fotos e por ai vai...oh! ceus! Mas, essa semana vou saber se tudo foi salvo e entao, poderei continuar me comunicando com voces. Nao me abandonem, p/favor! Super beijo e fiquem com Deus.

segunda-feira, 17 de março de 2008

INOCÊNCIA. Crônica por Edna Costa. 01.08.2004.

Houve uma época em que minha família morava nos fundos de uma igreja evangélica. No fim-de-semana eu e meus irmãos íamos a escola dominical e à noite ficávamos em casa, enquanto meus pais assistiam o culto. Meu pai era um crente daqueles que não admitia deslizes, mas para seu desgosto, eu era a filha diferente que gostava de fazer palhaçadas.

Minha mãe tinha uma prima rica, que todo final de ano nos mandava caixas de roupas, sapatos e brinquedos com pouco uso, que era uma benção para nós. Naquele fim de ano não foi diferente; mas, dessa vez, veio junto uma caixa misteriosa. Meu pai viu o que continha, olhou para minha mãe, de cara feia, fechou-a novamente e colocou-a no fundo do guarda-roupas, nos proibindo de ver ou tocar na tal caixa, mas a partir daquele dia, ela não saiu mais dos meus pensamentos e sonhos.

Certo domingo, quando todos estavam no culto, resolvi matar minha curiosidade. Tinha muita coisa linda naquela caixa, mas me encantei mesmo com a fantasia de fada: toda verde de cetim e com lindas estrelas prateadas. O chapéu era um cone, com uma pequenina estrela presa por uma mola bem fininha, que balançava graciosamente. Não resisti e vesti a roupa, o sapato de salto muito alto e o chapéu, tudo muito acima do meu tamanho. Olhei-me no espelho e achando que estava linda, resolvi ir para a igreja para que todo mundo me visse também. Meus irmãos ficaram histéricos e bem que tentaram me segurar de qualquer maneira, mas eu estava decidida.

Abri a porta da igreja e entrei exatamente na hora das orações e daquela gritaria que me assustava e que eu não entendia direito. Caminhei segurando aquele vestido imenso, tentando me equilibrar nos saltos até algumas fileiras de cadeiras vazias, onde ,vupt…escorreguei! Na queda fui levando as cadeiras junto comigo e assustada, comecei a gritar. Tudo parou e todos olhavam aquela figurinha bizarra esparramada no chão, com a estrela do chapéu balançando de um lado para o outro bem em frente ao nariz.

Meus irmãos ficaram parados na entrada, com as bocas escancaradas tanto quanto a porta. Todo mundo começou a rir, menos meu pai, que me levantou pela orelha e sem dó, me aplicou uma bela surra. Fiquei de castigo, com a traseira dolorida por alguns dias e ele deu sumiço na caixa, com tudo que tinha dentro. Mas vou confessar uma coisa: ninguém foi tão feliz como fada e nem brilhou mais que minha estrela naquele dia inesquecível!

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

AH! A NEVE! Crônica por Edna Costa.

O inverno chegou e com ele, além do frio congelante, a neve, por quem sou completamente fascinada. Sou capaz de ficar na janela da minha cozinha olhando esse espetáculo por longo tempo.

Os flócos branquinhos caindo em profusão formam um bale, hora alucinante rodopiando ao sabor do vento, hora suave como pedacinhos de algodão soltos ao vento. As árvores, antes carregadinhas de frutos e folhas, agora estão brancas e com os galhos curvados pelo peso da neve.

O cenário lembra cartões de natal ou postais, tal a beleza da brancura que contransta com as outras cores. O telhado de uma casa com um fio de fumaça saindo pela chaminé me chama a atenção. Fico imaginando se esta fumaça seria de uma lareira acesa numa sala aconchegante ou de um fogão onde estariam sendo feitos deliciosos quitutes.

Sinto falta dos passarinhos e do preguiçoso gato amarelo. Em compensação meu quintal recebe a visita de esquilos esfomeados e de gralhas barulhentas piando repetidamente: crau…crau…crau. Perco-me na comparação entre os pássaros de verão e os do inverno. Os de verão são mais refinados na sua algazarra e os do inverno lembram um bando de arruaceiros voltando de uma alegre noitada.

Como sempre este sera um longo inverno. Muitos dirão que odeiam esse tempo e enumerarão os transtornos que nos trazem. Eu sairei muito bem agasalhada para o trabalho, passeio ou compras e procurarei aproveitar, ao invés de reclamar.

Me divertirei enquanto caminho na branca fofura tentando “pisar” nas passadas de outra pessoa ou criando novas trilhas, fazendo guerra de bolas de neve com meus filhos (não importa sua idade, tente para ver que delícia!) ou simplesmente levantando meu rosto para o céu para receber a frieza e maciez dessa maravilha da natureza.

TIC-TAC. Crônica por Edna Costa. Janeiro/2005.

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...Escuto o relógio insensível marcando os segundos e fico cismada a pensar: que raio de tempos modernos são estes? Hoje temos inventos, tecnologia e todo tipo de parafernália para - supostamente - nos deixar mais tempo livre, mas o que acontece é exatamente o contrário.

Atualmente ninguém tem mais tempo para nada. A vida parece passar por nós numa velocidade tal que é impossível fazermos tudo o que planejamos. Sempre fica faltando alguma coisa. E acabamos deixando para o dia seguinte ou sabe-se lá para quando.

Levantamos já pensando em tudo o que teremos a fazer naquele dia, trabalhamos preocupados com tantos problemas para resolver e depois de tanta correria...meu Deus! O dia terminou e quanta coisa ficou acumulada! Oh! tempo sem tempo que nunca nos dá trégua.

Mas sabe o que é mais triste nisso tudo? É que na correria do dia-a
dia, acabamos nos esquecendo dos pequenos gestos de
atenção, carinho, amizade e amor que fazem a nós e aos nossos
entes queridos, muito mais felizes.

Foi pensando nisso que tenho cumprimentado amávelmente meu vizinho, mesmo quando saio afobada para o trabalho; procurado ajudar um idoso a pegar um taxi ou atravessar a rua; auxiliar uma mãe às voltas com criança e carrinho numa escada do metrô ou simplesmente escutando alguém solitário que queira desabafar.

E você, já pensou em fazer algo em favor de seu próximo - às vezes tão próximo mas tão ignorado - e assim sentir-se mais feliz? Nao? Então não perca tempo e comece agora mesmo!

sábado, 9 de fevereiro de 2008

OS FÓRAS QUE JÁ DEI. (Continuação) Crônica por Edna Costa. Dezembro/2004 Costa.

Atendendo a pedidos de pessoas tão ou mais desligadas do que eu, que tal continuarmos a nos divertir com tantos fóras? Vamos lá.

Já chamei várias vezes, meu vizinho de Salmão, quando na verdade o nome dele é Ramon.

Fiz compras numa loja, paguei com cheque e só descobri que não assinei, quando ao chegar em casa, a funcionária da loja ligou para me avisar.

Já cumprimentei pessoas, que depois olhando melhor, percebi nunca ter visto em minha vida.

Já coloquei compras no teto do carro para procurar as chaves ,e fui embora sem me lembrar de pegá-las de volta.

Atendi um orelhão de um ponto de táxi que estava tocando, deixando os taxistas furiosos.

Esqueci o carro na padaria e fui a pé para casa. Só me dei conta do esquecimento, quando o porteiro abriu o portão do prédio...

Desci no andar errado e estava tentando abrir a porta do apartamento alheio, quando o dono saiu e me encarou desconfiado.

Sentei no sofá, em cima do gato da minha amiga, e quase matei o bichano.

E o pior fóra que dei: Fui mexer no computador do meu chefe e desliguei toda a rede de computadores da loja. Perdi o emprego!

Talvez alguém tenha alguns piores para incrementar essa lista mas para mim, basta. Estou satisfeita com minhas atuações desastrosas.

OS FÓRAS QUE JÁ DEI. Crônica por Edna Costa. 08.07.2004.

Quem ainda não deu algum fóra na vida? Pode ter sido por simples distração, cansaço ou por falta de óculos.
Aí vão alguns que vivi e me lembro.

- Já coloquei hipoglós na escova de dentes. (Argh!)

- Pus minha roupa em cima do vaso sanitário sem ver que a tampa estava aberta.

- Passei creme dental em uma assadura num lugar delicado. (Nossa, como ardeu!)

- Lavei o cabelo com o xampú da nossa cachorrinha.

- Coloquei a panela no fogo com água, sal, temperos, coloquei pressão mas, esqueci de colocar o frango.

- Ao invés de pegar o celular, saí de casa levando o telefone sem fio na mão.

- Fui trabalhar com a blusa do pijama.

- Fiz compra no mercado e esqueci o dinheiro em casa.

- Andei quase um dia inteiro com uma fita colada na minha traseira escrito "Free".

- Procurei meu óculos por mais de uma hora estando com ele na minha cabeça.

- Dormi no trem, passei da estação que deveria descer e quando acordei fiquei feito barata tonta sem saber onde estava.

- Freei bruscamente o carro porque pensei que a sombra de um poste fosse um "quebra-molas".

- Comecei discar no controle remoto da tv, achando que estava com o telefone na mão.

E você, já deu algum fóra parecido? Ou tem algum mais engraçado pra contar?

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Boêmio. Cronica por Edna Costa. 01/05/2006.

Ele chegou na casa de meus tios, filhotinho ainda. Foi trazido por minha prima dizendo que ele a seguira pelas ruas parando toda vez que ela parava e fitando-a com os grandes olhos tristonhos. O andar trôpego, a magreza e aqueles olhos que pareciam contar sua historia de abandono, tocaram o coração da menina que não teve coragem de entrar e fechar mais uma vez o portão para aquela criaturinha. Meus tios concordaram em adotá-lo e assim ele ganhou uma família.

Depois de um banho e uma boa refeição chegou a hora de escolherem um nome para o cãozinho. Foi uma confusão daquelas e os nomes escolhidos pareciam não combinar nunca com o bicho. Finalmente puseram o nome de “Pretinho”, porque ele era inteiro negro. Aquela primeira noite foi terrível para todos pois o pequeno pôs-se a chorar olhando para a porta da rua e não havia nada que o consolasse.

No dia seguinte ficou decidido que ele dormiria no quintal. Saíram para comprar uma casinha para Pretinho e quando anoiteceu colocaram uma vasilha grande com água perto da sua nova moradia, despediram-se e todos foram dormir. Por volta de onze horas da noite meu tio foi ver como estava Pretinho e, surpresa…ele tinha sumido! Foi outra noite mal dormida pois meus primos e primas estavam inconsoláveis pelo sumiço dele.

No dia seguinte de manhã outra surpresa…lá estava Pretinho dormindo como um anjo. Todos ficaram aliviados com sua volta. A partir daí eventualmente o bicho sumia a noite e ninguém sabia onde ia mas acostumaram-se com esse mistério. O vira-latas ganhou peso, ficou mais bonito e com os pelos brilhantes mas os olhos continuavam tristes.

Depois de algum tempo tiveram que trocar seu nome pois ele não gostava deste e estava disposto a demonstrar sua insatisfação não respondendo quando o chamavam. Vieram outros nomes como Lulu, Totó, Rex mas nada do bicho obedecer. Até que em uma de nossas visitas meu tio contou do sumiço semanal do cachorro e meu pai disse brincando que ele devia ir para a farra. Bingo! Deram o nome de Boêmio para ele que prontamente ergueu a cabeça e balançou o rabo em sinal de contentamento. Assim a vida foi seguindo e Boêmio, já adulto, continuava com seus sumiços esporádicos.

Chegou o dia do casamento da minha prima e a casa estava em polvorosa desde bem cedo. A família sempre foi muito conhecida e estimada na pequena cidade e viria muita gente aliás, acho que a cidade inteira. Seria aquela festa! Primeiro serviriam o almoço e depois viria o “arrasta-pé”. Neste dia, Boêmio desapareceu desde manhã mas todos estavam ocupados demais para se preocupar com isso

Começaram a chegar os comes e bebes, as ajudantes e alguns convidados adiantados (para desespero de minha tia). Ela pediu para suas ajudantes colocarem os doces num quartinho dos fundos e fecharem a porta com a chave. Os noivos foram para o cartório, casaram-se, depois o vigário celebrou o casamento religioso lá na residência mesmo. No almoço todo mundo comeu até fartar-se sem esquecer de deixar espaço para o bolo e os doces.

Tão logo todos terminaram de almoçar, as ajudantes foram buscar os doces para servirem e ao abrir a porta quase desmaiaram! Tinha doce espalhado por todo lado e lá estava Boêmio passando mal depois de ter comido até não poder mais. Ele estivera o tempo todo preso (ou escondido?) no quartinho e pelo jeito assim que fecharam definitivamente a porta, ele caiu de boca nas guloseimas. Foi um Deus nos acuda! Minha tia quase teve um treco! Só se salvou o lindo bolo que havia sido colocado numa mesa bem alta. Sem mais nada a fazer, minha tia recompôs-se, voltou à festa e com elegância anunciou que os doces não tinham passado pelo teste de qualidade do “provador” e só seria servido bolo e champanha.

Naquela noite depois que a festa acabou e os noivos partiram para a lua-de-mel a casa ficou às escuras mas podia-se ouvir Boêmio gemendo baixinho no quintal. Fiquei imaginando o pobrezinho com os olhos tristonhos olhando para dentro da noite sem poder sair com uma tremenda dor de barriga e, creio eu, jurando não comer mais doce pelo resto da vida.

No dia seguinte a vida voltou ao normal na cidade mas demorou muito para que a história fosse esquecida. Até hoje ainda tem alguém que lembra do “causo” e diz que deveriam ter trocado o nome do Boêmio para Guloso.

PEQUENA GIGANTE, O FINAL. Cronica por Edna Costa. 18.08.2005.

Na crônica passada relembrei o drama da família Inoue lutando contra o câncer que atacou o pai, Terushi. Hoje vocês saberão o final da estória. Não falarei de tristezas e sim da união, amor, amizade e solidariedade que cercou essa família.

A família Inoue vive numa cidadezinha limpa e aprazível em Harrison, NJ. A rua larga e sossegada é ladeada por frondosas árvores e perto do comércio principal. A casa branquinha, bem cuidada e com jardineiras na varanda, é uma das mais bonitas - senão a mais bonita - do quarteirão. Caprichos do casal que sempre fez de tudo para melhorar aquele pedacinho aconchegante adquirido com os sacrifícios de uma vida dedicada ao trabalho duro primeiro no Brasil, depois no Japão e agora aqui, nos EUA.

O Terushi é daquelas pessoas que entende um pouco de tudo e que faz as coisas com carinho. Se algo precisa de "reparo" o Terushi conserta. Se precisa trocar o piso, pintar paredes, arrumar instalação elétrica, colocar porta e tudo o mais que se possa imaginar, ele dá conta do recado direitinho. Sua esposa Sueli está sempre por perto como ajudante do "senhor faz-de-tudo". Um casal bonito de se ver e conviver!

Mas o destino não marca hora e o que está escrito se faz cumprir.
A doença chegou e exigiu coragem, desprendimento e a ajuda de todos. Unidos lutaram, choraram, rezaram confiando na bondade de Deus e nunca perderam as esperanças. Mas a missão dele já estava terminada e chegou a hora de entender que o tempo de partir era agora. Terushi partiu sereno, em casa, nos braços da esposa, rodeado por seus filhos Juliane e Mikio e da sobrinha (quase uma filha para eles) Kellen.

A partir daquele momento a casa branquinha ficou com as portas da rua abertas e a demonstração de amizade, solidariedade e amor dos amigos e vizinhos continuou. Pessoas que durante toda a doença estiveram presentes telefonando todos os dias, orando ou rezando, ajudando financeiramente ou simplesmente emprestando seu ombro para que a família se sentisse amparada, começaram a chegar para a despedida final. Eram muitos os amigos.

A cerimônica fúnebre foi realizada na mesma rua em que eles moram. Na hora marcada fomos saindo todos rumo à capela. Não eram grupos de pessoas chorando ou falando coisas tristes. Eram pessoas comentando a bondade e honestidade do Terushi, a valentia da família, os obstáculos vencidos e finalmente o desenlace. Lembrei-me de voltar para colar na porta da rua da casa um cartão com o endereço da capela para as pessoas retardatárias.

A homenagem foi curta e simples. O pastor Valdir leu uma passagem da bíblia e fez um lindo sermão. No final Sueli levantou-se e agradeceu à Deus, à família, aos amigos e a todos por tudo o que fizeram por eles. A pequena gigante agora juntamente com a família preparava-se para uma nova etapa de suas vidas.

Quando tudo acabou saímos e fomos caminhando lentamente. A noite quente e úmida, como convém nessa época do ano, caía aos poucos e ao nos aproximarmos da casa branquinha recortada ao luar Sueli comentou:
- Tudo isso agora será uma lembrança boa do meu marido.
Nesse momento meu coração se encheu de ternura por fazer parte dos amigos dessa família maravilhosa.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Pequena gigante. Cronica por Edna Costa. 11.09.2004

À primeira vista parecia uma mulher frágil mas, como diz o ditado, as aparências enganam. Magra e miúda, a mulher não demonstrava a valentia escondida dentro do pequeno corpo. De origem humilde, cedo aprendeu a dura batalha pela sobrevivência.

Vivendo aqui com a família, mais uma vez sofreu um golpe do destino. Seu marido foi diagnosticado com câncer! Naquela noite, ela não dormiu com os pensamentos girando naquela ciranda louca de dúvidas e aflições.

Todos trabalhavam e as coisas estavam equilibradas mas, agora o marido não poderia mais ajudar e ainda viriam as despesas (muitas) de hospital, médicos e medicamentos, além do sofrimento e da espera por um final incerto.

Mais uma vez mostrou-se determinada tomando as rédeas da situação. Reuniram-se ela, marido, filha, sobrinha e o filho menor para refazer os planos e como fariam para segurar emocional e financeiramente a nova situação.

Um mês depois o marido teve que fazer uma cirurgia e depois algumas sessões de quimioterapia. O pior já havia passado e eles tinham vencido uma parte da batalha.

Da última vez que a vi, estava abatida pelo cansaço físico e, talvez um pouco mais triste mas, conservava aquela aura de guerreira que toda mulher valente tem.

(Esta crônica é uma homenagem especial à pequena gigante Sueli Inoue e a toda gente de fibra, que nunca perde a fé em Deus, nem a esperança na vida.)