sábado, 2 de fevereiro de 2008

PEQUENA GIGANTE, O FINAL. Cronica por Edna Costa. 18.08.2005.

Na crônica passada relembrei o drama da família Inoue lutando contra o câncer que atacou o pai, Terushi. Hoje vocês saberão o final da estória. Não falarei de tristezas e sim da união, amor, amizade e solidariedade que cercou essa família.

A família Inoue vive numa cidadezinha limpa e aprazível em Harrison, NJ. A rua larga e sossegada é ladeada por frondosas árvores e perto do comércio principal. A casa branquinha, bem cuidada e com jardineiras na varanda, é uma das mais bonitas - senão a mais bonita - do quarteirão. Caprichos do casal que sempre fez de tudo para melhorar aquele pedacinho aconchegante adquirido com os sacrifícios de uma vida dedicada ao trabalho duro primeiro no Brasil, depois no Japão e agora aqui, nos EUA.

O Terushi é daquelas pessoas que entende um pouco de tudo e que faz as coisas com carinho. Se algo precisa de "reparo" o Terushi conserta. Se precisa trocar o piso, pintar paredes, arrumar instalação elétrica, colocar porta e tudo o mais que se possa imaginar, ele dá conta do recado direitinho. Sua esposa Sueli está sempre por perto como ajudante do "senhor faz-de-tudo". Um casal bonito de se ver e conviver!

Mas o destino não marca hora e o que está escrito se faz cumprir.
A doença chegou e exigiu coragem, desprendimento e a ajuda de todos. Unidos lutaram, choraram, rezaram confiando na bondade de Deus e nunca perderam as esperanças. Mas a missão dele já estava terminada e chegou a hora de entender que o tempo de partir era agora. Terushi partiu sereno, em casa, nos braços da esposa, rodeado por seus filhos Juliane e Mikio e da sobrinha (quase uma filha para eles) Kellen.

A partir daquele momento a casa branquinha ficou com as portas da rua abertas e a demonstração de amizade, solidariedade e amor dos amigos e vizinhos continuou. Pessoas que durante toda a doença estiveram presentes telefonando todos os dias, orando ou rezando, ajudando financeiramente ou simplesmente emprestando seu ombro para que a família se sentisse amparada, começaram a chegar para a despedida final. Eram muitos os amigos.

A cerimônica fúnebre foi realizada na mesma rua em que eles moram. Na hora marcada fomos saindo todos rumo à capela. Não eram grupos de pessoas chorando ou falando coisas tristes. Eram pessoas comentando a bondade e honestidade do Terushi, a valentia da família, os obstáculos vencidos e finalmente o desenlace. Lembrei-me de voltar para colar na porta da rua da casa um cartão com o endereço da capela para as pessoas retardatárias.

A homenagem foi curta e simples. O pastor Valdir leu uma passagem da bíblia e fez um lindo sermão. No final Sueli levantou-se e agradeceu à Deus, à família, aos amigos e a todos por tudo o que fizeram por eles. A pequena gigante agora juntamente com a família preparava-se para uma nova etapa de suas vidas.

Quando tudo acabou saímos e fomos caminhando lentamente. A noite quente e úmida, como convém nessa época do ano, caía aos poucos e ao nos aproximarmos da casa branquinha recortada ao luar Sueli comentou:
- Tudo isso agora será uma lembrança boa do meu marido.
Nesse momento meu coração se encheu de ternura por fazer parte dos amigos dessa família maravilhosa.

Nenhum comentário: