sábado, 15 de agosto de 2009

MENINA FLOR. Parte II. Crônica por Edna Costa . 26/08/2008.

A vida seguia seu curso de encontro ao destino e a casa de Flor e Zé vivia sempre cheia de conversas e um inevitável entra e sai de filhos, pessoas e amigos. Entre esses haviam as numerosas comadres e compadres, todos escolhidos por motivos afetivos com os pais, como por exemplo os padrinhos do Jesus, que apesar do nome de santo era espevitado como ninguém.
Todos os meninos tinham os nomes começados com “J”. O primeiro foi Junior, o segundo João (em homenagem ao avô) e por aí seguiu, sendo que o caçula era o Jesus. Combinaram que quando nascesse a sonhada menina, nada mais justo que o nome fosse escolhido pela mãe. A pequenina chamava-se Maria Flor, numa referência ao apelido da mãe.
A madrinha de Jesus era uma das melhores amigas de Flor e vivia mais na casa dos compadres do que na dela, que era bem ao lado. Gorete, que não tinha filhos, era alegre, palpiteira e com frequência cutucava a comadre para cuidar mais do compadre e deixar um pouco as crianças, de lado.
Flor se incomodava um pouco pela comadre dar esse tipo de palpite. Ela se virava como podia para dar conta das crianças e da casa, pois apesar de ter uma pessoa que a ajudava no dia-a-dia e tudo ser sempre uma grande canseira, achava que dava conta do recado direitinho.
O tempo passando, a caçulinha com quase dois anos até que um dia Flor começou a notar o Zé com ar distante e distraído. Pegava a bicicleta com mais frequência para ir olhar a correnteza do rio e quando falava com ele era sempre aquele susto, como se estivesse a léguas dali. Cisma minha, pensava ela sempre aterefada demais para perder tempo com bobagens.
Quando passou aquele dezembro de festas de natal e comemoração do aniversário da florzinha, Zé chamou Flor e disse simplesmente que iria embora com outra. E, quem era essa pessoa? Parecia impossível, mas a outra era a comadre Gorete! Foi uma raiva tamanha, que Flor pensou que fosse explodir.
Passado esse momento de estupor, ligou para a a mãe contando tudo e perguntando o que iria fazer da vida. Depois de alguns minutos da tensa conversa, a mãe pediu que lhe desse algum tempo para pensar numa solução, disse que se acalmasse e que ligaria tão logo tivesse a resposta para ajudá-la.
Acalmar-se? Sentia-se uma pessoa feliz e realizada, mas isso fora mudado em apenas alguns minutos transportando-a para o centro de um furacão. Onde tinha errado? (Porque que será que as mulheres sempre acham que o erro é delas?). Afundou no grande sofá da sala e ficou fitando o teto com o olhar perdido, enquanto as lágrimas rolavam quentes e abundantes por suas faces, que agora tinham uma cor cinzenta. Sentia-se fraca e pela primeira vez na vida, não sabia o que fazer.
Cenas da sua vida foram passando lentamente diante de seus olhos. Nesses momentos via Zé como mocinho e não vilão. Pai amoroso, amigo, alegre e responsável era o que lembrava. Como ele podia chegar e simplesmente dizer que ia embora? É verdade que acabara o amor impetuoso de ambos, mas no lugar ficara o amor feito de companheirismo, compreensão, amizade e momentos de pura ternura, construídos ao longo de anos de convivência.
Imaginava o futuro como um revolto mar de águas escuras e bravias, avançando com fúria de encontro a seu sereno porto seguro. Olhava constantemente para o telefone e tinha ímpetos de ligar novamente para a mãe, nesse momento seu único refúgio e amparo. Respirou fundo e aguardou.

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